Imagina que tens de decepcionar alguém.
As especificidades não interessam para aqui; por exemplo, tens coisas combinadas com várias pessoas para um período de tempo, mas uma avalanche de trabalho, cansaço, ou outra razão obriga-te a cancelar uma dessas coisas.
Supõe que os candidatos a decepcionar são os seguintes:
- O gajo A é muito emotivo, e vai reagir mal à decepção. Não vai necessariamente ficar fisicamente violento, mas vai “explodir”, gritar contigo, acusar-te de não dares valor nenhum à sua amizade, descrever-te usando vários termos pouco simpáticos, e não te vai querer ver tão cedo.
- O gajo B é também muito emocional, mas neste caso as emoções levam-no a uma atitude depressiva e auto-destrutiva, causada por pouca auto-estima. Vai dizer N coisas que activarão o teu sentimento de culpa, vai-te lembrar de como isto era importante para ele, de como o feriste na alma, e pode até chorar ou falar em suicídio. Sim, há pessoas assim.
- O gajo C, por outro lado, não consegue esconder a tristeza durante meio segundo, mas rapidamente se controla, força um sorriso para não te preocupares, e diz “OK, eu compreendo; a gente fala depois.” Não se irrita, não faz birras, continuará a falar contigo sem problemas, e, se não fosse aquele meio segundo inicial, até acreditarias que ele realmente não deu qualquer importância à coisa.
Imagina que és tu (seja quem fores; este post não é decicado a ninguém especificamente) neste caso. Queres apostar como, quase de certeza, vais escolher decepcionar o gajo C?
E isso não te faz sentir injusto/a e cobarde?
Sim, escolheria a C, e sim, faria-me sentir injusto na mesma. :/
Mas é assim, preferia que ele ficasse magoado durante um a dois dias, do que uma pessoa não me querer ver durante, hipoteticamente, um ano ou assim (caso A), ou que alguém morresse (caso B). :S
Mas preferia mesmo poder ir aos três, embora estivesse impossibilitado. :S
Da maneira como eu sou, se o gajo/a A e B me tivesse feito isso da primeira vez, nao fazia mais – deixava de o conhecer, nao suporto drama queens.
Drama queens nao sao amigos, sao demasiado envolvidos neles próprios para serem bons amigos, como tal, au revoir mes amies!
Estou orgulhoso de ti… mas, acredita, és uma excepção.
Até não iria tão longe, de certa forma. Não acho que os “A”s e “B”s sejam os “vilões” desta história; o verdadeiro “vilão”, aqui, é o que escolhe decepcionar (sistematicamente, se necessãrio) o “C” por pura cobardia. “Um insulta-me, outro chora, e o terceiro aceita; vou lixar o terceiro.” Enojante.
Posso também culpar o “C” se este, depois de isto acontecer uma ou mais vezes, não perceber que a pessoa em questão não merece, não é de todo digna da sua amizade. Wishful thinking é das coisas mais desprezíveis no ser humano.
Os “A”s e “B”s… nem os posso censurar, são o que são. Não são propriamente gente que queira ao pé de mim, mas de certa forma deve-se dar desconto, they don’t know any better.
E, caso não seja óbvio pelo post, eu já fui o “gajo C ultra-mega-compreensívo” (leia-se “capacho”) mais vezes do que gostaria de admitir. Mas mais vale abrir os olhos tarde do que nunca…
Até parece que nao somos todos em diferentes alturas o gajo X, A B e C. E pensarmos que somos constantemente o gajo C também nos faz ser drama queens 😉 Think about it!
Aí estás a entrar num relativismo exagerado, tipo “somos todos iguais”. Obviamente, não posso concordar. Sem dúvida que já tive momentos de A e B (quem é que não os tem), mas sou bem mais “C” do que a maior parte das pessoas à volta. 🙂 Anyway, this is not about me, mas em relação aos Xs que preferem decepcionar os Cs por pura cobardia.
Oh Pedro, mas a escolha como as pessoas te tratam é tua. Se nao queres que te facam isso tens 2 opcoes: ou deixas da mao gente que tu nao achas que tenham respeito por ti como amigo ou se achas que eles valem a pena, falas com eles e explicas que nao gostas que te facam isso, que achas que é uma falta de respeito.
E tu as vezes também és o gajo X, se bem me lembro no início da nossa amizade tive uma conversa contigo sobre isso. E tu pediste-me desculpa e disseste que nao me querias perder como amiga, e 4/5 anos mais tarde continuamos amigos, se bem que nunca tenhamos sido amigos chegados.
As pessoas fazem-nos o que os deixamos fazer; quando somos crescidos e maduros o suficiente, falamos com as pessoas em vez de as cortarmos da nossa vida. Nós também cometemos erros e seria bom que os nossos amigos que valem a pena nos dessem oportunidades para nos desculparmos e crescermos enquanto pessoas.
A forma como lidamos com amizades só nos traz skills para o resto das relacoes nas nossas vidas: amorosas, com a a familia, com os colegas de trabalho, com os chefes, com clientes, com empregados de mesa, enfim, melhoramos as nossas capacidades de interagir com outros e mais importante deixamos de ser “capachos”, o que reduz em muito a eventualidade de novas pessoas nas nossas vidas nos tratarem com tal.