Tive vários comentários interessantes ao meu post “Lucros, despedimentos, Bloco de Esquerda e colectivismo”, além de ter discutido o assunto com uma amiga ontem à tarde. Como a resposta às várias questões seria um pouco grande, preferi escrever um novo post.
Primeiro, uma crítica comum foi que eu estava a tirar a mensagem do post do contexto; isto é, que, considerando as várias questões do momento e a polémica à volta deles, o cartaz transmite uma mensagem diferente, que já faz sentido. Bem… se não nego que isso seja verdade (eu realmente não ouço, vejo ou leio notícias de Portugal, em geral), ao mesmo tempo acho que não faz qualquer sentido um outdoor que precisa de “conhecimentos especiais” para lhe apanhar o significado. Assim como não aceito “desculpas de contexto” para as partes na Bíblia Cristã que aceitam a escravatura e afirmam a inferioridade e necessária submissão das mulheres, também não posso aceitar que um cartaz necessite do consumo dos “media” portugueses para poder ser correctamente interpretado, e que não possa ser criticado apenas pelo que efectivamente lá está escrito. E o que lá está escrito é isto: (em tempo de crise) quem tem lucros não pode despedir. Se queriam dizer outra coisa, escrevessem outra coisa.
De qualquer forma, já a prever isto, antes de escrever o post fui ao site do Bloco ver se aquele anúncio estava inserido nalgum contexto. Descobri-o num PDF, e todo o discurso à volta não contradizia a minha interpretação: têm imensos lucros (o que, na definição de um partido destes, imediatamente torna alguém corrupto, desonesto e imoral), logo não deviam poder despedir ninguém. Same old, same old.
Passando à frente desta questão, disseram-me que o problema é que empresas multinacionais vieram “brincar” a Portugal, e, como os lucros não são o que esperavam, “fartam-se da brincadeira” e fecham, deixando assim imensa gente no desemprego. Eu entendo a posição de quem perde o emprego desta forma, mas ao mesmo tempo… qual é a solução deles? Impedir a empresa de fechar? E como é que isso se faz? Raptando os donos e impedindo-os de sair do país? Insinuar que uma empresa não pode fechar se o quiser fazer é tão absurdo como dizer que um empregado não se pode demitir, porque é “propriedade” da empresa. E o facto de ela ter lucros ou prejuízo não faz aqui qualquer diferença.
Uma questão diferente é um engravatado imundo (lá estou eu nos pleonasmos) despedir 1000 empregados abaixo dele porque isso fará aparentar aos superiores dele que ele poupou dinheiro e por isso é muito “eficiente”, recebendo ele assim um substancial bónus, que para ele é mais importante do que o emprego de mil pessoas. Aqui considero, sem dúvida, que a atitude desse engravatado é repugnante de um ponto de vista ético e moral… mas, mais uma vez, qual é a solução? Não se pode travar um caso destes sem travar despedimentos em geral, e o direito a despedir é tão vital como o direito a demitirmo-nos. As pessoas “precisam” do emprego que têm? Desculpem se isto parece elitismo da minha parte, mas eu acredito que um emprego não é caridade, mas sim uma troca justa e voluntária (para ambas as partes) de valores entre empregador e empregado; ao demitir um empregado competente, uma empresa só se prejudica a ela própria. O empregado não é competente, mas “precisa” muito do dinheiro? Lamento, mas não me compadeço com isso. Não acho que alguém tenha “direito” a um emprego (mesmo não produzindo nada de jeito) só porque “precisa muito”.
O problema aqui é que, para muito boa gente, “carreira” resume-se ao seguinte: aprender meia dúzia de skills na adolescência, e depois passar o resto da vida a fazer a mesma coisa, como um autómato, até à reforma. Ter de aprender algo novo é o maior terror da vida destas pessoas. É suposto eu ter compaixão? Só a terei se efectivamente for caso de deficiência física ou mental, em vez de apenas preguiça, arrogância anti-intelectual, e/ou orgulho na sua ignorância (o tão comum “faço isto há 20 anos e nunca tive de saber desta m…”). Aprender novos skills nunca fez mal a ninguém.
Por último, pôs-se outra questão: o facto de o estado estar a dar milhões a empresas que têm lucro, e mesmo assim essas empresas fazerem despedimentos colectivos porque querem mais lucro (ou maiores bónus para os seus directores). Aqui, sem dúvida que me enojo. Mas a solução, para mim, é o estado deixar de ajudar estas empresas. Isto parece-me óbvio… porque é que toda a gente vê a coisa ao contrário (as empresas continuam a receber ajuda, mas têm de fazer caridade)? O que é que o estado está a fazer a ajudar empresas que não sejam startups, já agora? Se empresas grandes têm lucros, não precisam obviamente de ajuda; se têm prejuízo… bem, voltamos à questão do colectivismo: serei só eu a ver um problema em usar impostos pagos por empresas eficientes para suportar empresas ineficientes? Isso não é punir a competência e recompensar a incompetência, criando inevitavelmente mais e mais desta última?