No livro The Salmon of Doubt, um dos textos do Douglas Adams falava de como ele não achava piada à maior parte do humor conteporâneo, por não conseguir desligar o cérebro. Por exemplo, ele mencionava uma piada que esteve muito na moda há uns anos, dita na TV por vários comediantes, e que era a seguinte: os aviões, como se sabe, têm uma “caixa preta” (“black box”) que é feita de uma liga ultra-resistente, e que guarda os dados do vôo, de forma a que, no caso de um acidente, seja possível determinar o que aconteceu nos últimos momentos, mesmo que o avião tenha explodido aparatosamente. A piada é: então, porque é que não constroem um avião inteiramente desse material? É como se isso fosse uma coisa óbvia, e os grandes “crânios” na indústria aeronáutica fossem completamente imbecis.
O Douglas Adams, nessa altura, dizia que não se riu quando ouviu isso pela primeira vez, porque a primeira coisa que pensou foi o óbvio: que esse material é muito mais pesado, e que um avião construído dessa forma nunca levantaria vôo.
Ou seja, é um humor que só funciona quando se desliga o cérebro temporariamente. (ou quando já se é totalmente idiota, but I digress…)
Há dias, vi uma parecida. Vi uma frase, supostamente muito profunda, que diz o seguinte:
Se a vida te fizer cair sete vezes, levanta-te oito.
Serei só eu a reparar que essa frase não faz sentido? Que não nos podemos levantar sem ter caído, logo, a última vez está a mais, e é, no contexto, totalmente impossível? Que, se caímos 7 vezes, só nos podemos levantar 7, e acabaremos de pé; a oitava seria levantarmo-nos quando já estamos de pé? 😮
Já sei, vão-me dizer que eu não devia pensar tanto nestas coisas. Mas o que não vêem é que pensar não é um “esforço árduo”, é algo completamente natural para qualquer ser que não dedique esforço e tempo a anular a sua mente. Pensar é o que nos torna humanos. Humor — ou frases supostamente “inspiradoras” — que dependem de não pensar… não, obrigado. 🙂